domingo, 6 de março de 2016

Criar hábitos de estudo...

Artigo de opinião de Mário Cordeiro

Publicado no jornal i no dia 26 de janeiro de 2016

As crianças devem ser autónomas no seu quotidiano, designadamente no estudar. Todavia, ensinar, apoiar e estar disponível não é “fazer a papinha” mas sim ajudar os filhos, precisamente, a adquirirem essa autonomia.

















Uma das tarefas mais difíceis para um pai é convencer um filho a estudar e a criar hábitos de estudo.

Estudar é muitas vezes visto como um frete porque a questão é mal apresentada – não se estuda para passar nos exames, mas sim para conseguir um dos maiores objetivos do ser humano: o aperfeiçoamento, que dá gozo, prazer, é estimulante, criativo e torna-nos mais livre, porque nos permite mais soluções e opções. Se estudar for assim visto, as crianças estudarão com gosto, pese algumas matérias serem mais interessantes do que outras, ou a criança ter mais apetência para umas ou outras.
Um outro desafio que se apresenta aos pais é explicar aos filhos que estudar não é uma “seca”. Mas… será possível tornar o estudo divertido?
É. É possível, desde que se ensine (e se aprenda), desde muito cedo, a ser organizado e metódico, e que uma pessoa será tanto melhor estudante, no sentido lato do termo, e como ser humano, se for completa, eclética e pluripotencial. A tarefa começa, pois, no infantário! Se o estudo for visto como um desafio, como um jogo em que se pretende saber mais, para constatar que menos se sabe e que mais há para aprender, então as crianças gostarão de estudar, mesmo que estejamos perante um paradoxo. É verdade que é um paradoxo, mas um paradoxo gostoso, porque substitui o «só sei que nada sei», num «vou sabendo mais, mas sabendo que há muito mais para saber do que eu pensava». Pelo contrário, se o estudo for visto como um trabalho forçado que visa apenas os quadros de honra ou “ter 5 por ter 5”, então ninguém estudará com interesse.

 Os pais devem, assim, ensinar os filhos a ser metódicos e organizados, rigorosos e exigentes consigo próprios, mas a darem o melhor de si e não a compararem-se com os outros ou a serem bons para eles, pais, poderem dizer que têm um filho no quadro de excelência ou de honra, ou seja lá o que for. O bom planeamento está em ver qual a matéria, dividi-la, racioná-la, estabelecer objetivos e ver qual a melhor estratégia para os atingir. É bom todos os dias ler a matéria que foi dada (20 minutos serão o suficiente), não como forma de estudo mas para “puxar” a matéria que foi dada de manhã novamente para o consciente, ir tendo uma ideia, passo a passo, do que se vai dando, e na altura dos testes será muito menor o esforço e mais fácil o estudo, sem ter de prescindir de tudo o resto.



Alguns alunos podem precisar de espaços de calma e vocacionados para estudar, quando os pais e a escola não lhes ensinaram a metodologia do ensino/aprendizagem. Todavia, creio que explicações, no sentido de “mais do mesmo”, é pura perda de tempo e de dinheiro, entedia as crianças, enfurece os pais e desilude os explicadores. Uma criança, desde pequena, deve adquirir autonomia no estudo, o que não quer dizer que os pais não estejam sempre lá para apoio final, revisões, perguntas avulsas, ensinar pequenos truques, averiguar fragilidades, desdramatizar stresses… mas o estudo deve ser pessoal, com boas condições, sem televisão, playstations ou o que seja a interferir e a distrair. Será que os próprios pais sabem ter momentos de calma, rigor e objetividade assim?

(...) autonomia não é deixar desamparados, é deixar errar para corrigir, é apoiar, é estar disponível e presente, é fazer “sabatinas” e perguntas, sem stresse. Somos pais. Sem sermos “galinhas” temos de estar ao lado das nossas crias. Só assim poderão crescer, ter gosto pelo aperfeiçoamento e pelo saber. Autonomia anda a par e responsabilidade. Direitos andam a par de deveres… 


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